quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Passei o dia ouvindo o que o Mar dizia


Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Falou-me do seu destino
Do seu fado...

Depois, para se alegrar
Ergueu-se  e bailando  e rindo
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado
Eu afastei-me mais triste
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

Voz do mar, misteriosa
Voz do amor e da verdade!
Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica
Trémula voz de quem parte...»


E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!



 [António Botto]

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