terça-feira, 22 de novembro de 2011

AMEAÇA DE MORTE

 Não basta ter-me dado
nos meus versos:
Pedem a carne e a pele
os inimigos.
Os olhos, dois postigos
De olhar o mundo
sem ninguém me ver
Querem-nos entaipado
E quebrados, os braços
que eram ramos a crescer.

Luto, digo que não
peço socorro
Mas saiu-me ao caminho
uma alcateia.
Lobos da liberdade alheia
Que me seguem os passos
hora a hora
Sem que eu possa
sequer adivinhar
Na paisagem
do medo tumular
Qual deles salta primeiro
e me devora.

[Miguel Torga]

Sem comentários:

Enviar um comentário