Não basta ter-me dado
nos meus versos:
Pedem a carne e a pele
os inimigos.
Os olhos, dois postigos
De olhar o mundo
sem ninguém me ver
Querem-nos entaipado
E quebrados, os braços
que eram ramos a crescer.
Luto, digo que não
peço socorro
Mas saiu-me ao caminho
uma alcateia.
Lobos da liberdade alheia
Que me seguem os passos
hora a hora
Sem que eu possa
sequer adivinhar
Na paisagem
do medo tumular
Qual deles salta primeiro
e me devora.
[Miguel Torga]
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