quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Testamento


À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro…

E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura
sonhando algures uma lenda
deixo o meu vestido branco
o meu vestido de noiva
todo tecido de renda…
este meu rosário antigo
oferece-o àquele amigo
que não acredita em Deus…
E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer
são para os homens humildes
que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos
esses, que são de dor
sincera e desordenada…
esses, que são de esperança
desesperada mas firme
deixo-os a ti, meu Amor…

Para que, na paz da hora
em que a minha lama venha
beijar de longe os teus olhos
vás por essa noite fora…
com passos feitos de lua
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua…


[Alda Lara]

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