Passavam pelo ar aves repentinas
O cheiro da terra era fundo e amargo
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura
Era a carne das árvores elástica e dura
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa
Era o peso e era a cor de cada coisa
A sua quietude, secretamente viva
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo
Cuja voz, quando se quebra, sobe
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
[Sophia de Mello Breyner Andresen]
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