quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Retrato do Povo de Lisboa


É da torre mais alta
do meu pranto
que eu canto
este meu sangue
este meu povo.
Dessa torre maior
em que apenas
sou grande
por me cantar de novo.

Cantar como quem despe
a ganga da tristeza
e põe a nu
a espádua da saudade
chama que nasce e cresce
e morre acesa
em plena liberdade.

É da voz do meu povo
uma criança seminua
nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde
sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.

Mas nunca se dói
só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio
dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido
a nódoa negra
punhada no meu canto.

[José Carlos Ary dos Santos]

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