quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tarde de mais...


Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E  há cem anos que eu era nova e linda!...
E  a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, oh meu Amor?!...

[Florbela Espanca]

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