sábado, 3 de dezembro de 2011

Os rios atónitos


Há palavras a dormir
sobre o seu largo assombro
Por exemplo
se dizes Quanza
ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado
os próprios rios

Ou seja
as águas pesadas de lama
os peixes todos
e os perigos inumeráveis
O musgo das margens
o escuro mistério em movimento.

Dizes Quanza
ou dizes Congo
e um rio corre lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar  preenche-se
de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes
há grandes aves
e súbitos sons redondos
e convexos.

E dizes Quanza
ou dizes Congo
e sempre que o dizes
acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro
e infinito assombro.


[José Eduardo Agualusa]

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