segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Poema Cansado de Certos Momentos

 Foi-se tudo
como areia fina escoada pelos dedos.
Mãe! aqui me tens, metade de mim
sem saber que metade me pertence.
Aqui me tens, de gestos saqueados
onde resta a saudade de ti
e do teu mundo de medos.
Meus braços, vê-os, estão gastos
de pedir luz e de roubar distâncias.
Meus braços cruzados
em cruz de calvário dos meus degredos.
Ai que isto de correr pela vida,
dissipando a riqueza que me deste
de levar em cada beijo
a pureza que pariste e embalaste
ai mãe, só um louco ou um Messias
estendendo a face de justo

para os homens cuspirem o fel das veias
só um louco, ou um poeta ou um Cristo
poderá beijar as rosas que os espinhos sangram
e  embora rasgado, beber o perfume
e continuar cantando.
Mãe! tu nunca previste as geadas e os bichos
roendo os campos adubados
e o vizinho largando a fúria dos rebanhos
pela flor menina dos meus prados.
E assim, geraste-me despido como as ervas
e não olhaste os pegos nem as cobras
verdes, viscosas, espreitando dos nichos.
De mão nua, entregaste-me ao destino.
Os anjos ficaram lá em cima, cobardes, ansiosos.
E sem elmos ou gibões,
nem lutei nem vivi:
fiquei quieto, absorto, em lágrimas
e lá ao fundo esperavam-me valados
e chacais rancorosos.

Mãe! aqui me tens,
restos de mim.
Guarda-me contigo agora,
que és tu a minha justiça e o exílio
do perdido e do achado.
Guarda-me contigo agora
e adormece-me as feridas
com as guitarras do fado.

Mas caberá no teu regaço
o fantasma do perdido?

[Fernando Namora]


Querida Mãe, faz hoje 3 anos que foste embora e tanta coisa que ficou por te dizer. Fica sempre, Mãe nunca avisa quando se vai embora. Lá tenho sobrevivido, não sei como, isto por aqui vai de mal a pior, contigo por aqui as coisas eram bem melhores, fazes-me tanta falta querida Mãe, Grande Amor da minha vida.

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