domingo, 29 de janeiro de 2012

A Sofreguidão de um Instante

Tudo renegarei menos o afecto
e trago um ceptro e uma coroa
o primeiro de ferro, a segunda de urze
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda
que seja em redor do teu sono
num êxtase de lábios sobre a relva
num delírio de beijos sobre o ventre
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.

[José Jorge Letria]

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