Gostava
tanto de mexer na vida
De ser quem
sou, mas de poder tocar-lhe...
E não há
forma: cada vez perdida
Mais a
destreza de saber pegar-lhe.
Viver em
casa como toda a gente
Não ter
juízo nos meus livros
Mas chegar
ao fim do mês sempre
com as despesas
pagas religiosamente.
Não ter
receio de seguir pequenas
E
convidá-las para me pôr nelas
À minha
Torre ebúrnea abrir janelas
Numa palavra
e não fazer mais cenas.
Ter força um
dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem
que empenando vai.
Não mandar
telegramas ao meu Pai
Não andar
por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me
e sair
não precisar
de hora e meia
antes de vir prà rua.
Pôr termo a
isto de viver na lua,
Perder a
frousse das correntes de ar.
Não estar
sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos
amigos que frequento
Não me
embrenhar por histórias melindrosas
Que em
fantasia apenas argumento
Que tudo é
em fantasia alada,
Um crime ou
bem que nunca se comete
E sempre o
Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar
ou minha Zoina suada...
(Paris -
Janeiro 1916.)
[Mário de
Sá-Carneiro]
Pintura óleo
sobre Cartão e Tela
(Mário de Sá
Carneiro raptando Maria Helena Vieira da Silva, 1972)
Mário
Cesariny
Sem comentários:
Enviar um comentário