sábado, 17 de março de 2012

Pergunto-te

 Pergunto-te
 onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu.
Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.

Vão-se as minhas perguntas
 aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto?
 Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias?
 E de cada pergunta minha
 vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos
 de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada
do silêncio da coisa irrespondida.

[Cecília Meireles]

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