segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Castidade com que Abria as Coxas

 A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas
e tão estrita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

[Carlos Drummond de Andrade]

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