domingo, 10 de junho de 2012

o homem que já não sou

não me olhes agora que estou
mais velho e não correspondo em
nada ao homem que amaste
 procura encarar a tristeza
sem me incluíres, seria demasiado
cruel que me usasses para a dor.
 para ti quis trazer as coisas mais belas
e em tudo o que fiz pus o cuidado
 meticuloso de quem ama.
 não me obrigues a cortar os
pulsos quando fores num minuto ao
jardim com o cão

esta noite, sem notares, sustive a
respiração e quase morri.
 não deste por nada.
 julgaste que voltei a ressonar
 e até terás esboçado um sorriso.
 e se eu pudesse morrer
enquanto sorris, pergunto

deixo para depois, ou talvez
desista. mas não pode ser se
tu me olhares em busca
 de tudo o que já não existe.
não pode ser, levo a faca maior
 para debaixo do meu travesseiro
juro-te que me mato
 se continuares assim

[valter hugo mãe]

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