sábado, 5 de fevereiro de 2011

blues da morte de amor

já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase
era um tempo de humores bem sacudidos
depressões sincopadas, bem graves, minha querida
mas afinal não morri, como se vê, ah não
passava o tempo a ouvir Deus e música de jazz
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não
eu nunca tive queda para kamikaze
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa
o que eu nunca pedi, ah não, manda calar a gente
minha querida, toda a gente do bairro
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete:  morrer ou não morrer, darling, ah sim.

[Vasco Graça Moura]

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