sábado, 11 de junho de 2011

P R E S Í D I O

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo
Que dizer do pescoço, às vezes mármore
às vezes linho, lago, tronco de árvore
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida
onda de pedra em cada reencontro
no parque da memória o fugídio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio
pois no teu corpo existe o mundo todo!

[David Mourão-Ferreira]

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