sexta-feira, 2 de setembro de 2011

À ENTRADA DA NOITE

Paul Cézanne. Maçãs verdes, c. 1873. Óleo

Fogem agora, os olhos
 Fogem da luz latindo.
Estão doentes, ou velhos, coitados…
defendem-se do que mais amam.
Tenho tanto que lhes agradecer:
as nuvens, as areias, as gaivotas
a côr pueril dos pêssegos
o peito espreitando
 entre o linho da camisa
 a friorenta claridade de Abril
 o silêncio branco sem costura
 as pequenas maçãs verdes de Cézanne
 O mar.

[Eugénio de Andrade]