quarta-feira, 11 de abril de 2012

As Palavras Interditas

Os navios existem e existe o teu rosto
        encostado ao rosto dos navios. 
        Sem nenhum destino flutuam nas cidades
        partem no vento, regressam nos rios. 

        Na areia branca, onde o tempo começa
        uma criança passa de costas para o mar.
        Anoitece, não há dúvida, anoitece. 
        É preciso partir, é preciso ficar. 

        Os hospitais cobrem-se de cinza.
        Ondas de sombra quebram nas esquinas.
        Amo-te... E abrem-se janelas
        mostrando a brancura das cortinas.

        As palavras que te envio são interditas
        Até  meu amor, pelo halo das searas
        se alguma regressasse, nem já reconhecia
        o teu nome nas minhas curvas claras.

        Dói-me esta água, este ar que se respira
        dói-me esta solidão de pedra escura
        e estas mãos noturnas onde aperto 
        os meus dias quebrados na cintura. 

        E a noite cresce apaixonadamente.
        Nas suas margens vivas, desenhadas
        cada homem tem apenas para dar
        um horizonte de cidades bombardeadas. 

[Eugénio de Andrade]

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